segunda-feira, 26 de maio de 2008

Finito

Só para avisar formalmente que o que se escreveu aqui já não escreve, nem tão pouco se lê. o Delirium passou, o espírito cresceu...

Namasté

segunda-feira, 5 de novembro de 2007

Mar de Púrpura



Ele...apenas ele...despido de roupas e palavras...esboçava apenas um sorriso de realização perante aqueles que lhes serviriam a morte numa bandeja dourada.
Eles...tantos eles...munidos de ódio e torturas...sorriam espantados mas confiantes tal insanidade que sua presa apresentava.
Ali...a terra árida, monótona, preparava-se sedentamente para absorver o canal sanguíneo que nela iria fluir muito em breve...
O céu...num azul indiferente, assistia aquele circo de feras desequilibrado e obsceno.
O vento...testava a atenção do demente mártir, amaciava-lhe o cabelo e suspirava-lhe ao ouvido...Aos milhões de legionários era apenas vento que lhes
trespassava as inúteis e grossas armaduras de preconceito.
Finalmente conseguiria enfrentar todos aqueles que o repudiavam...o fracasso é certeiro, mas o pesadelo sempre lhe havia acomodado os sonhos de
rosas vermelhas...
3...
2...
1...
Vermelho...
Ao contrário dos seus sonhos, o bravo lutador não se desfazia de suas tormentas com a facilidade de um beijo...
1...
Seu corpo dilacerado resistia em tons de encarnado...
Sua mente gritava não honrosa à dor mas à serventia dos ideias que ontem lhe carimbaram o amanhã...
2...
A Morte pegava-lhe com custo.
Com custo esperneava violentamente...não o corpo, pois este já não o havia...o sonho...
3...
Com a bravura de um Deus que o não é, havia sumido...já nem o pouco era algo.
A sonho, esse ali estava, eternizado em cada areia meticulosamente tingida pela cor das rosas que outrora o haviam acomodado.
E para sempre a poeira dançou de braço e essência dada com a eterna brisa da utopia.

quinta-feira, 1 de novembro de 2007

Mãos Frias




O prazer que me não dá, aquecer as minhas mãos enregeladas pelo frio que me assola o corpo e a alma.
Não pelo facto de estas ficarem quentes, não...
A efemeridade do momento em que a temperatura delas transita violentamente do frio ao quente,
tão espontaneamente...
A satisfação de sentir aquele lapso inigualável nem que por um milésimo da mais ínfima
partícula do tempo.
Ah...o Rei de mim que me torno por tão curto Eu. Sem Reino para reinar nem coroa para vangloriar.
E a dor de a já não ter pesar sobre meus ombros. O que me custa o momento permanecer interdito nos
cárceres do tempo. Não que o pudesse ou fosse minha vontade libertá-lo. A liberdade em consonância com a
eternidade banalizála-ia.
Por isso mesmo choro... Num misto de prazer e perda por tão vago momento de sentir.
Mãos quentes...

sexta-feira, 5 de outubro de 2007

Tempos




Tic...Tac...
Tic...Tac...
Tic...Tac...
Tic...Tic...Tic
Mil mãos revoltas estrangulavam desmedidamente tão esguio pescoço. Enquanto isto, milhares de milhões de agulhas irrompiam sua sensível pele macia provocando-lhe uma dor delicadamente aguda.
Sete sóis incineravam seus claros e surpresos olhos. Ali estava ele cotorcendo-se de dor, de pânico, mas maioritariamente, de dúvida e espanto...Nisto, vasculhava suas memórias vagas, nesses pensamentos desertos apenas ouvia o gotejar: "tic...tic..tic..."Ingénuo, inocente, aquela criatura recém-nascida despediu-se delicadamente das agulhas, soltou as mãos que privavam os seus desesperados pulmões de ar. Soltou-as gentilmente, uma por uma.
Por fim, vendou-se com um doce turbante negro. E despediu-se, do sofrimento, da angústia e do receio.
O não a um sorriso de lágrimas...
A natureza havia-lhe falhado, por isso mesmo desabrochou uma naturalidade virgem e exótica ...única...
Mas nada pára...Tac...

quarta-feira, 3 de outubro de 2007

Entranhas



E mergulhado no meu próprio ímpeto confuso ia irradiando especulações acerca da minha existência. Coisas absolutamente absurdas que trato como seriedades catalizadas pela demência. Ansioso e receoso da minha explosão de veracidades duvidosas que me atormentam o pensamento, constantemente, penso, escrevo, vivo sem saber, sem ter a noção e a certeza da mais pura realidade. Tão frustrado por não conseguir descrever aquilo que a mente mal acompanha...então estas linhas a léguas ficam do desespero gélido que penso ser único e por isso mesmo me assuste, tanto quanto me satisfaz...

Tiro No Escuro




Acordando de um doce pesadelo, fui perscrutando a penúmbra que irradiava de negro tudo que abraçava. Privado das cegas cores, nada mais podia fazer do que atirar-me de olhos vendados e de mente esperançada. Na verdade, não havia qualquer esperança. Não havia a mínima dúvida que mergulharia bem fundo na dimensão do sofrimento gélido. Apesar de ciente da verdade que teimava em recusar acreditar na minha aceitação, atirei-me... A dor não tardou a penetrar-me, no entanto não me perturbou tanto quanto a impassividade de nada fazer e de por momentos me achar e sentir invulnerável, impenetrável... Esperançosamente cego...

terça-feira, 2 de outubro de 2007

O Casaco

Pendurado e sem vida, ali estava aquela peça rota.
Um casaco que já viveu experiências e tocou emoções.
Abandonado e esfarrapado ali se encontrava o inanimado objecto que outrora sentiu as gélidas gotas de chuva penetrarem-lhe as fibras. O casaco que sentiu tão forte e intenso abraço, tão alta e dolorosa queda.
Aquele tecido castanho onde o fumo se havia entranhado e que tantas lágrimas salgadas afogou. Aquele velho inútil e solitário casaco que outrora tocou sentimentos e acariciou milhares de peças de vida, pendia agora no cabide de esquecimento como simples desperdício.
Afinal de contas..era só um casaco.

Imagem capatada pela minha amiga Luísa. A ela, um tremendo obrigado por me abrigar do frio que me assolava o corpo e o espírito. Serve-me na perfeição.