segunda-feira, 5 de novembro de 2007

Mar de Púrpura



Ele...apenas ele...despido de roupas e palavras...esboçava apenas um sorriso de realização perante aqueles que lhes serviriam a morte numa bandeja dourada.
Eles...tantos eles...munidos de ódio e torturas...sorriam espantados mas confiantes tal insanidade que sua presa apresentava.
Ali...a terra árida, monótona, preparava-se sedentamente para absorver o canal sanguíneo que nela iria fluir muito em breve...
O céu...num azul indiferente, assistia aquele circo de feras desequilibrado e obsceno.
O vento...testava a atenção do demente mártir, amaciava-lhe o cabelo e suspirava-lhe ao ouvido...Aos milhões de legionários era apenas vento que lhes
trespassava as inúteis e grossas armaduras de preconceito.
Finalmente conseguiria enfrentar todos aqueles que o repudiavam...o fracasso é certeiro, mas o pesadelo sempre lhe havia acomodado os sonhos de
rosas vermelhas...
3...
2...
1...
Vermelho...
Ao contrário dos seus sonhos, o bravo lutador não se desfazia de suas tormentas com a facilidade de um beijo...
1...
Seu corpo dilacerado resistia em tons de encarnado...
Sua mente gritava não honrosa à dor mas à serventia dos ideias que ontem lhe carimbaram o amanhã...
2...
A Morte pegava-lhe com custo.
Com custo esperneava violentamente...não o corpo, pois este já não o havia...o sonho...
3...
Com a bravura de um Deus que o não é, havia sumido...já nem o pouco era algo.
A sonho, esse ali estava, eternizado em cada areia meticulosamente tingida pela cor das rosas que outrora o haviam acomodado.
E para sempre a poeira dançou de braço e essência dada com a eterna brisa da utopia.

quinta-feira, 1 de novembro de 2007

Mãos Frias




O prazer que me não dá, aquecer as minhas mãos enregeladas pelo frio que me assola o corpo e a alma.
Não pelo facto de estas ficarem quentes, não...
A efemeridade do momento em que a temperatura delas transita violentamente do frio ao quente,
tão espontaneamente...
A satisfação de sentir aquele lapso inigualável nem que por um milésimo da mais ínfima
partícula do tempo.
Ah...o Rei de mim que me torno por tão curto Eu. Sem Reino para reinar nem coroa para vangloriar.
E a dor de a já não ter pesar sobre meus ombros. O que me custa o momento permanecer interdito nos
cárceres do tempo. Não que o pudesse ou fosse minha vontade libertá-lo. A liberdade em consonância com a
eternidade banalizála-ia.
Por isso mesmo choro... Num misto de prazer e perda por tão vago momento de sentir.
Mãos quentes...